30 agosto 2011

SÃO CRISTÓVÃO PARTICIPA DE III CONFERÊNCIA TERRITORIAL DE POLÍTICAS PARA AS MULHERES







Na manhã da última segunda-feira, 29, as Coordenadorias Municipais de Políticas Públicas para as Mulheres do Território da Grande Aracaju, área composta por oito cidades, dentre as quais São Cristóvão, com destaque para o COMDIM - Conselho Municipal de Direitos da Mulher, cuja presidente, Gilvânia de Souza, participou da comissão organizadora do evento. A III Conferência Territorial de Políticas para as Mulheres foi realizada no Clube Recreativo Antônio Carlos Leite Franco, localizado no município de Laranjeiras, onde foram reunidas centenas de mulheres, além da secretária de Estado Especial de Políticas para as Mulheres, Maria Teles. A programação foi contemplada com apresentações culturais, aprovação do regimento, palestras, debates, grupo temáticos, apresentação dos diagnósticos e eleição dos delegados municipais que participarão da Conferência estadual.O tema principal “Pela Construção da Igualdade, Fortalecimento da Autonomia e Erradicação da Extrema Pobreza” foi tratado através de quatro eixos, sendo cada um deles discutidos por grupos temáticos compostos por mulheres dos municípios de Barra dos Coqueiros, Itaporanga D’Ajuda, Maruim, Nossa Senhora do Socorro, Riachuelo, Santo Amaro das Brotas, a anfitriã, Laranjeiras, e São Cristóvão, cujo público marcou presença em peso, com mais de 30 representantes. No início da manhã, a coordenadora Municipal de Políticas Públicas para as Mulheres de Itaporanga D’Ajuda, Jane Alves Santos apresentou uma exposição sobre a proposta do evento, onde enfatizou a importância dos dados de cada município para o conhecimento do estágio em que se encontra o tratamento da temática dentro de cada cidade representada. “Através dos dados colhidos nesta Conferência, será possível revelar o retrato para subsidiar as palestras e auxiliar na identificação de quem somos e quais as nossas carências”, disse.Em seguida, a secretária Maria Telles foi breve, porém precisa nas suas palavras. “A questão de gênero vai além da identificação da criança ter nascido menino ou menina, por isso precisamos desconstruir essa prática e revelar questões como a orientação sexual, se é hétero ou homossexual. As meninas são levadas a brincar com panelinhas e bonecas, numa forma de reproduzir a sua futura condição de dona de casa e mãe, já o menino, ganha arcos e flechas, carrinhos, sempre instigando o sentimento de liberdade e, até, superioridade sobre a mulher”, enfatizou. Maria Telles pontuou também que a mulher acumula todas as funções no seio da família e profissionais, a exemplo da questão do idoso, para a qual o Estado ainda não está preparado, sendo que as mulheres da família exercerão mais essa função de cuidadora, cuja responsabilidade raramente é cobrada de um filho ou de outro homem da família. Após apresentar índices que surpreenderam o público, quanto à contaminação pelo HIV, cuja proporcionalidade já alcançou quase que a igualdade entre homens e mulheres, sendo 1,4 homens para 1 mulher, a secretária abordou a questão da sexualidade e do mercado de trabalho. “A mulher tem pouca autonomia na sua sexualidade, pois fica refém de como e quando o companheiro quer usar o preservativo, sendo ele o determinante. Até a geração de um filho é determinada pelo homem quando o mesmo diz que quer ser pai e a mulher se submete, pois a própria sociedade cobra a reprodução”.No âmbito profissional, a figura do poder ainda está relacionada ao homem, porém um número maior de mulheres se gradua, mas ocupa o mercado de trabalho sem ascender verticalmente, sempre na horizontal, subordinada a chefes e aos menores salários, mesmo sendo responsável pela ocupação de 60% das formas de trabalho no mundo.Em seguida, a palestra ficou sob a responsabilidade da promotora de Justiça e Coordenadora do Núcleo dos Direitos da Mulher, Dr.ª Gicele Mara Cavalcanti D’Ávila Fontes, cuja exposição caminhou pelos abismos sociais entre a mulher e o homem impostos pela conjuntura machista, e até das brechas da legislação brasileira. “Quando a mulher tem um amante, é considerada adúltera, mas o homem é um conquistador e tem concubinas”, disse basicamente. Lembrou também o ‘Caso Doca Street’, conhecido devido ao assassinato cometido pelo paulista Raul Fernandes do Amaral Street contra a namorada Ângela Diniz, conhecida como “Pantera de Minas”. Inicialmente, Doca teria sido julgado e condenado a dois anos de cadeia, mas houve a suspensão condicional da pena, o que suscitou movimentos feministas que pediram novo julgamento ao promotor de Justiça que recorreu da decisão, tendo o assassino ido parar atrás das grades. A promotora explicou que as brechas da lei e os equívocos do judiciário teriam levado à banalização do caso, mas o movimento feminista não deixou que o assassino saísse impune. “As leis demandam da sociedade e a Maria da Penha deve ser aplicada em todos os casos em que haja relação íntima de afeto, sendo atual companheiro ou um ex-namorado”, disse a Dr.ª. Presente na comitiva de São Cristóvão, Luís Carlos Freire, representando a Igreja Católica, revelou que a sua presença no evento explica-se, antes de todos os títulos, pela sua cidadania.“O homem em si está se conscientizando de que a mulher é igual e tem direitos iguais. A mulher passou a reivindicar os seus direitos e já contabiliza conquistas, a exemplo da realização desta Conferência, o que considero um grande passo”, disse. Para a secretária Maria Telles, este é um momento diferente, em que está havendo o fortalecimento da rede de proteção e da auto-estima, o que pode ser constatado pela busca das Conferências. A Conferência Estadual será no mês de outubro. “O olhar da mulher mudou”, concluiu.

Texto e foto: Yara Santos