“Ele me agride quando chega bêbado em casa, mas não posso denunciar o pai dos meus filhos”. Esta e tantas outras frases revelam a essência do pensamento que silenciou a violência praticada contra a mulher, não só pela dependência financeira, mas afetiva da mulher alvo da agressão, que se viu impotente durante anos mediante àquele a quem jurara amor eterno e, agora, se tornara o seu algoz.
Aberta pelo Coral Ecos do município de Nossa Senhora do Socorro e por um café nordestino completo, na quarta-feira, 15, foi realizado o Seminário de Enfrentamento da Violência contra a Mulher, organizado pela Secretaria Especial de Políticas Públicas para a Mulher, assumida há dois meses pela secretária Maria Teles, onde reuniu autoridades estaduais, municipais, delegadas, conselheiras e sociedade civil, no auditório da Sociedade Semear, na capital, com a participação especial da Secretária Nacional de Enfrentamento à Violência, Aparecida Gonçalves.
Prestigiada por um auditório repleto de mulheres e simpatizantes da luta pelo combate à violência contra a mulher, a titular da pasta no estado, Maria Teles, revelou ter segurado até aquele momento o seu discurso de posse e deu voz ao evento. “O que eu sintetizei no dia da posse, hoje, leio sem improvisos, pois entreguei toda a minha juventude na luta pela igualdade entre homens e mulheres, como o princípio da democracia e aproveito a oportunidade para reafirmar o compromisso da Secretaria com este desafio, sendo esse o caminho para a extinção da miséria e agradeço aos movimentos populares que concretizam as políticas públicas”, disse Maria Teles.
Os gestores municipais foram representados na pessoa da prefeita da cidade de Laranjeiras, Ione Sobral. O município de São Cristóvão foi representado pela defensora Pública da Universidade Federal de Sergipe (UFS) e do Núcleo da Mulher de Aracaju, a Dr.ª Richesmy Libório Santa Rosa; pela coordenadora do Centro de Referência Especializado
A secretária nacional do Enfrentamento à Violência, Aparecida Gonçalves enfatizou que mesmo diante das dificuldades, Sergipe tem avançado no Pacto de Enfrentamento à Violência, sendo esta considerada a forma dura de submissão, que faz com que a mulher alvo da ação permaneça quieta e calada e para mudar esse quadro é necessário criar uma rede, oferecendo abrigos, geração de emprego e renda e segurança para denunciar.
“A violência é um problema de homens e mulheres. É necessário que os homens falem sobre a violência contra a mulher. A história do sexo frágil, da sensibilidade e da intuição do gênero feminino define lugares na sociedade. Tendemos a dar uma boneca à menina e mantê-la em casa, e um caminhão ao menino e incentivá-lo a sair na rua. O patriarcado reproduz o sistema machista, onde o homem é o dono da casa”, enfatizou em sua fala, a secretária nacional.
Aparecida deixou claro que a luta pela aplicabilidade da Lei Maria da Penha tem sido dura, a exemplo dos 16 mil processos já julgados, devolvidos pelo Tribunal de Justiça
Diante das estatísticas apresentadas pela Central de Denúncia da Violência (180), de dois em dois minutos, mulheres sofrem diversos tipos de violência, sendo que desde 2005, foram contabilizados 1,6 milhão em denúncias efetivas e constatado que 57% sofrem violência todos os dias e se o vetor aumentar, em cada 10 anos uma cidade de médio porte será o equivalente à quantidade de mulheres que serão mortas.
A gravidade evidencia a necessidade de existirem juizados especializados na causa e neste sentido, o Comdim de São Cristóvão foi aplaudido por todos os presentes, devido aos esforços, que resultarão na implantação do Núcleo de Atendimento à Mulher, na Delegacia da sede do município.
Antes de concluir, a secretária Maria Teles apresentou em primeira mão a campanha que será lançada durante os festejos juninos, intitulada “A violência contra a mulher não pode virar tradição”. Enfim, a política de enfrentamento tornará possível o combate da violência no Brasil, através de diretrizes que priorizem a prevenção. “É imprescindível a discussão da Educação no país, repensando as relações, a criação de uma cultura de combate a estilos de músicas e campanhas publicitárias que depreciam a mulher. Vamos alterar a vida cotidiana, ou seja, garantir os direitos da mulher”, finalizou Aparecida Gonçalves.
Texto e foto: Yara Santos