20 maio 2011

CREAS PROMOVE CAPACITAÇÃO DO SALVE PARA PROFISSIONAIS DA REDE DE PROTEÇÃO DO MUNICÍPIO

“Não permita a violência sexual.” Esta é a frase em destaque no certificado emitido pela Secretaria Municipal da Inclusão e do Desenvolvimento Social, através do Centro de Referência Especializado da Assistência Social (Creas), responsável pela promoção da Capacitação do Sistema de Aviso Legal por Violência, Exploração ou Maus Tratos contra a Criança e o Adolescente (Salve), que aconteceu na manhã desta sexta-feira, 20, no Fórum Desembargador Gílson Góis, localizado no município de São Cristóvão.
Prestigiado por profissionais da rede de proteção do município (educadores; conselheiros tutelares; coordenadores de programas Peti e Projovem; profissionais da saúde; coordenadora da Saúde Mental; equipes dos Cras e CAPS), o evento foi iniciado com o pronunciamento da coordenadora do Creas, Ana Angélica Costa.
“Em outro momento, as ocorrências do município de São Cristóvão eram registradas na capital, devido à falta de estruturação de rede de proteção do município, mas agora, através da participação dos organismos que atuam desde o enfrentamento até a prevenção e noticiamento, conhecemos melhor a realidade da cidade, assim como as nossas carências e os comandos que funcionam de fato para reduzir a violência cometida contra a infância e à adolescência”, explicou a coordenadora estimulada com o novo quadro da rede assistencial do municipal.
Em seguida a secretária da Inclusão, Carolina Pereira parabenizou os profissionais presentes, estimulando-os a participarem e multiplicarem a capacitação no seu setor de origem e em sua comunidade. A capacitação foi ministrada pela professora Josevanda Menezes Prado, representante do Salve, que tem como objetivo estimular profissionais das áreas de saúde e educação a cumprirem determinação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), exigindo a notificação e encaminhamento aos órgãos competentes de casos ou suspeitas de maus tratos contra meninas e meninos de 0 a 17 anos.
A professora enfatizou a necessidade de haver a intersetorialidade das ações para que as estas não demandem apenas para o estado, aumentando a articulação da rede para o atendimento da criança e do adolescente, além de expor sua teoria baseada na fiolosofia de Aristóteles e outros pensadores da pedagogia.
“Criança não se prostitui, é explorada sexualmente, pois diferente de um adulto, não tem a capacidade de auto-determinação. O tempo é um elemento sobre o qual não temos governabilidade, por isso a prática torna-se muito mais louvável do que a teoria. A lei nasce de acordo com a demanda social, mas até agora, os 21 anos de Estatuto da Criança e do Adolescente não foram suficientes para o cumprimento das leis básicas”, pontuou a professora.
Dando prosseguimento, a palestrante além, de questionar o cumprimento da lei, instigou os participantes através da responsabilização dos pais, sobre as crianças e adolescentes. Josevanda criticou a volatilidade das relações atuais, dominadas pela adolescência, por meio da rede social de computadores e suas ferramentas (orkut, facebook,twitter). “Todas as nossas relações são baseadas na reciprocidade e a educação vem da base, que é a família. Os pais são, na verdade, interlocutores de um conhecimento que vem dos avós, pois as crianças de hoje são as mesmas crianças do século passado, mas a educação que deveria ser assegurada pelos pais está em risco, desgastada e até corrompida”, questionou.
O discurso da professora foi permeado por uma linha de pensamento que levou à reflexão e encorajou os profissionais da rede social. “Não existem crianças ou adolescentes problemáticos, eles são completamente normais, quem tem problemas são os adultos que os cercam e servem de exemplo, levando à perda do controle da liberdade, que deve ser dita no plural e não no singular, pois para cada direito se pressupõe um dever. Lembrando que a lei na teoria é uma maravilha e que na prática não encontra mecanismos para ser cumprida, por isso reforço que lugar de criança e no orçamento e não na escola sem cadeira, sem sala, merenda estragada, como vem acontecendo no Brasil e, na minha opinião, o Conselho Tutelar é o órgão que deve contar com a rede para atuar, munido de carro, telefone,computador para o noticiamento da violação dos direitos das crianças à educação; ao esporte; ao lazer; à profissionalização; à cultura; à dignidade e respeito; à convivência familiar e comunitária”, expôs.
Ao final de sua fala, a professora Josevanda apresentou dados que chocaram a platéia: “Hoje, 20 de maio, ao final do dia, 18 mil crianças terão sido violentadas física, psicológica ou sexualmente. Destas, 71% são meninas e destes, 83% são negras ou afrodescendentes. Morrem mais indivíduos no Brasil com idade inferior a 18 anos, salvas as proporções, do que na faixa de Gaza, e por fim, alerto as autoridades competentes de que o Creas não poderá abarcar todos os casos sozinho, pois estará fadado ao insucesso,mas em Sergipe, a rede de proteção está funcionando e dos organismos ligados a esta, só o IML não funciona”, concluiu.

Texto: Yara Santos
Foto: Grazziele Santos