21 novembro 2011

CULTURA: RODA DE LEITURA ABORDA CONSCIÊNCIA NEGRA, ATRAVÉS DE TEXTOS DE ESCRITORES BRASILEIROS

Na manhã desta segunda-feira, 21, a Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de São Cristóvão, através da Biblioteca Pública Municipal Senador Lourival Baptista realizou uma roda de leitura onde foram lidos textos e poesias de autores brasileiros que tratam da expressão negra no Brasil e no mundo.
Para apresentar os textos, a coordenadora da Biblioteca, Rose Mary de Jesus Barros Barbosa; a coordenadora da Casa do Folclore Zeca de Noberto, Maria Glória; a coordenadora do Posto de Informações Turísticas, Eliene Marcelo; a diretora do Colégio Elísio Carmelo, Maria Rita dos Santos; e o diretor do Museu Histórico de Sergipe, Thiago Fragata.
No início da Roda, a coordenadora Glória citou algumas formas de racismo,como piadas onde o ‘negro só é gente quando está no banheiro’ e solicitou uma reflexão dos estudantes para que não alimentem esses escárnios.
Fragata também se enveredou pelo Sítio do Pica-pau Amarelo e citou evidências do racismo do autor, Monteiro Lobato, que produziu falas de interação com a Tia Anastácia, onde era reconhecida como negra, porém amenizada a sua situação com o dizer ‘é uma negra boa’.
Na platéia, estudantes do 1° ano do Ensino Médio do Colégio Elísio Carmelo sob a orientação do professor Gladston Barroso, assistiram atentamente às interpretações e comentários feitos pelos leitores da Roda, a exemplo do diretor do Museu Histórico, Thiago Fragata, que provocou os provocou lendo uma composição, complementando com a lembrança do dizer de seu avô, o qual dizia que “negro não é gente e se fosse, urubu seria tenente”.
Em seguida, apresentou, com o auxílio do professor Gladston, uma foto do escritor Machado de Assis, sempre averso à sua retratação em foto ou pintura, pela não-afirmação da sua própria cor e raça.
“Machado de Assis foi o fundador da Academia Brasileira de Letras, mas negro criado por brancos, com educação européia, com toda a sua inteligência, não se aceitava negro e aqueles que o toleravam em seu meio, o denominavam ‘negro de alma branca’”, disse o historiador.
A fala de Fragata levou os estudantes a buscarem na sua memória formas que as pessoas têm de difamar o negro, amenizando o fato com a referida ‘alma branca’, ou mesmo criando cores como ‘marrom-bombom, chocolate, até mesmo o moreno’, para não classificar como negro, o sujeito que tem essa identidade.
Glória, coordenadora da Casa do Folclore, abordou a negritude e a desvalorização da mulher, que ocorre através das letras de bandas, cujo ritmo pode ser contagiante, mas a mensagem é repugnante e necessita da reivindicação dos estudantes para que melhorem a qualidade do que é veiculado na mídia e comercializado e a leitura dos escritos de Gregório de Matos, o Boca do Inferno, levou os estudantes a interagirem com a Roda.
Eliene Marcelo, coordenadora do Posto de Informações Turísticas – PIT, além da leitura que suscitou o escritor Cruz e Sousa, onde cita que é preciso morrer para entender, ou seja, abrir mão de seus próprios preconceitos para entender o que está sendo dito a partir da própria leitura, contribuiu com um comentário pertinente.
“As concepções que sustentam os preconceitos estão cristalizadas, pois há séculos, colocaram-nas como verdades absolutas, mas elas não são”, disse.
A diretora do Colégio, Maria Rita, enalteceu o escritor e fundador da militância do movimento negro sergipano, o mestre Severo D’acelino, lendo um poema de sua autoria.
O professor Gladston enfatizou que o preconceito sobre as coisas, em grande parte, acontece devido à ignorância acerca do assunto. “É importante que estejamos sempre lendo”.
Estimulada, a estudante falou, representando a turma. “Às vezes, nós mesmos não procuramos conhecer antes de criticar”, disse Clívia Taynara Santos de Oliveira.
Após a Roda de Leitura na Biblioteca, os leitores seguiram para o Museu Histórico de Sergipe, onde apresentaram alguns textos para os estudantes do Colégio Gaspar Lourenço, na Roda de Leitura 'Zumbi dos Palmares'. Para as leituras foram pinçados textos que enfatizassem a condição do negro na história e sociedade brasileiras.
Para finalizar, o historiador leu um texto sobre a agulha, a linha e o alfinete. Numa conversa entre os citados, todos disputavam a maior importância, o alfinete dizia que onde o colocavam, Porter cabeça, ele ficava; a agulha, cheia de si, dizia abrir caminho para os outros; já a linha, tripudiava, pois depois de unir os pontos, servi-lhe nos babados, era ela quem seguia aos festejos junto com quem se compunha com as vestes costuradas.
Na verdade, todos têm a sua importância para chegar ao objetivo final, mas o racismo faz com que a participação do negro não seja reconhecida e este não protagoniza a sua própria contribuição.

Lançamento- A coordenadora da Biblioteca Pública, Rose Mary, anunciou o Projeto ‘Mostre seu Talento’, através do qual os estudantes e todos os interessados que tenham algum texto ou poesia guardados, podem se inscrever na Biblioteca e, literalmente, mostrar o seu talento.








Texto e Fotos: Yara Santos